Recalling as a Nature Lover after 8 Years

2009 was the year I got associated with a Nature Club where once I got a chance to visit pretty good, but the least visited place(s) right in the heart of Chennai City. Thanks to my school where I…

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iii

Eu crio personagens desde que aprendi a nomear. Eu não tinha amigos imaginários, eu nomeava elementos e objetos ao meu redor. Para cada um eu tinha uma história, um diálogo, uma persona. Meus melhores amigos eram o vento e o elevador de serviço do meu prédio.

Eu fui uma adolescente melancólica. Uma criança mais ainda. Sentir demais é um defeito de origem que eu ainda tento lidar. Então acaba que as personagens que eu crio são assim, com um pouco das letras das minhas músicas favoritas. Eu fico presa num “wanna-be” e pena quando elas aparecem e me contento em imaginar que elas são uma realidade alternativa de mim mesma. Pelas histórias delas eu tento não me perder da minha. Foi assim que escrevi a Crônica II.

Crônica II

- Uma garrafa de whisky, por favor.

- Qual, gata?

E ela saberia? Ela não entendia de bebidas. Muito menos de whisky.

- O pior que tiver.

Ela se contentaria com o pior. Por que provar o melhor se não era pra ela? Ela vai beber pelos outros. Pela sua misericórdia e melancolia, sim. Mas se isso provêm de outros, então ela bebe pelos outros, não?

O bar parecia bem sujo. Ela parecia a pessoa mais limpa do lugar. Ela parecia a pessoa mais desgastada do lugar. Ela parecia uma pessoa que queria estar lá. Assim como todos os outros homens que ao contrário do que poderia parecer não olhavam pra ela. Que homem olharia para uma mulher que parecia ter acabado de sair da caverna de Platão?

- Literalmente. Platão dever ter se fodido para escrever aquilo. — ela pensou alto quando o garçom trouxe a garrafa.

- Disse algo? — ele ouviu. Não deviam escutar pensamentos altos.

- Não — ela pegou o copo que ele trouxera com gelo e derramou o conteúdo no chão. — Talvez tenha dito “ nada de gelo”, mas você não ouviu antes, ouviu?

Ele só olhou para ela. Não merecia resposta, ela sabia. Só pegou a garrafa e virou no copo. Agradeceu levantando o copo na altura do olho. Começou a entornar. Um copo, um pensamento: o bar tem música ao vivo? Deveria ter porque ela escutava um péssimo violão tocando algo. Dois copos, outro pensamento: isso é AM. Deve ser. Têm adolescentes aqui. Ela riu. Talvez pela primeira vez desde que acordara. Ela também era uma adolescente. Três copos, uma aflição: a arma está incomodando. Maldita coluna. Quatro copos, uma questão: o corpo. Não fui eu de qualquer jeito. Foda-se. Cinco copos, uma canção: Karma Police. Poderiam tocar isso. Ela se levantou. Percebeu que já estava tonta.

- Você só aguenta cinco copos de um maldito whisky? — disse para si mesmo.

O cara do violão tocava Cornerstone do AM. Ela queria Karma Police do Radiohead. Ela chegou mais perto da pretensão de palco montado.

- Você pode tocar Karma Police?

O garoto olhou para ela sem parar de cantar a música: “ I elongated my lift home”. Ela costumava fazer isso com seu irmão. Dava voltas e mais voltas na rua para conversar com ele, até realmente ser chamada para casa. O garoto fez que sim com a cabeça. Ele ainda ia acabar aquela.

- Obrigada. — ela se virou e voltou para o bar. Ninguém olhava para ela. E porque querer ser olhada? O anonimato deve ser uma benção. Ele é. Ela queria ser olhada. Ela precisava. Mas ninguém mais é especial nesse mundo. Alguns famosos sim. Cinco minutos cada. Menos até.

Ela jurou que iria fazer bem aos outros. Ela caiu na famosa linha da vida que te leva para baixo. Rotina não é a culpada. Casa. Acorda 12h. Faculdade. Sem nenhuma vontade. Perspectiva de sucesso com o curso: 0. Trabalho. Perspectiva de crescimento: 0. Internet. TV. E agora um bar com uma cara tocando ridiculamente Karma Police. Porque ela pediu. Porque ela deixou.

Ela pegou a garrafa e saiu do bar. Deixou uma nota de… ela não lembrava. Mas deve ter sido uma quantidade boa porque ninguém tentou pará-la. O garoto ainda tocava Radiohead: “ for a minute there I lost myself”.

Ela se deixou perder na cidade. Maldita cidade. Ela saiu do bar que mal conhecia e virou a quadra. Ela chegara com o carro, mas não queria ir embora com ele. A noite chamava. Como sempre chama aqueles com a mente inquieta demais para aceitar tudo. Ela não aceitava. Ela não aceitava ser só aquilo. Nem ter feito o que fez. Nem ter deixado de fazer o que deveria. Ou pior, o que queria. Eles perdoariam. Eles sempre perdoam, não? Além do mais, o que uma adolescente sabe da vida, além de Internet, balada e chocolate? Ela era inocente. Ela não era inocente. Não poderia ser nem que quisesse. E essa é a mágica da questão. Pode-se ter tudo o que quiser. Só não da maneira como se quer. Proibi-se aqui o uso de “só basta querer e lutar por aquilo que você deseja, seguindo todos os caminhos certos”. Não basta. A vida não basta. A existência não basta. O universo é vasto. As possibilidades são vastas. O sentimento de vazio também. O sentimento de não sair do lugar é enorme. O universo afrente. Tão perto que você não só sente o cheiro do futuro como também o vê de manhã em seus sonhos. E não só em sonhos, mas no seu olhar. O desejo molda o olhar. O desejo não de seguir em frente. O desejo de subir, descer, dar a volta, sair de cena e voltar, explorar, caçar, até mesmo voar.

Ela é só outra que deixou seu olhar ser moldado. Mas todo o resto foi contra. Todo o resto sempre vai ser contra. Não é uma variável. Ela se perdeu. Ela está perdida. Se você encontrá-la diga que tem crédito no bar. Ela deixou uma nota de cem. O whisky foi por conta da casa. O garçom pagou para ela.

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